Revista Mais Vida – Setembro/1999

Você está precisando de uma dose extra de sorte no amor, no trabalho, na sua conta bancária? Ou anda correndo atrás de paz de espírito? Os adeptos da milenar arte chinesa do Feng Shui garantem que pequenas mudanças na disposição dos móveis e objetos, em casa ou no escritório, podem promover uma grande reviravolta na vida

Se você estiver numa roda onde se discute qual o melhor lugar da sala para se colocar um vaso vermelho, se o pé da cama pode ou não ficar virado para a porta do quarto, ou se azul é a melhor cor para as paredes do banheiro, não vá dar o fora achando que a conversa é sobre tendências de decoração. O assunto, que invariavelmente acaba em risadas porque todo mundo tem uma pergunta na cabeça, mas quase ninguém sabe responder, é o Feng Shui, milenar arte chinesa usada para harmonizar a energia dos ambientes de casas e escritórios.
Essa energia, prega o Feng Shui, é conhecida por chi e está presente em tudo: no fogo, água, terra, madeira, ar, metal, e – por que não? – em nós mesmos. “Todo mundo quer melhorar a vida, crescer, evoluir. Mas para conseguir sucesso com essa arte o que vale é a boa intenção e merecimento do dono da casa”, explica a consultora Silvana Helena Occhialini, de São Paulo, cujos clientes chegam a esperar dois meses para ouvir suas instruções. Detalhe: Silvana já atendeu famílias de São Paulo e de mais de cinco capitais brasileiras.

Fazer por merecer
Para conquistar o prazer de viver, ter mais sorte no amor e garantir um presente próspero, explica Silvana, o primeiro passo é estar disposto a mudar, a agir de maneira coerente com seus desejos, a ajudar os que estão a sua volta e a fazer tudo o que você faz um pouco melhor, a cada dia.

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O trigrama relaciona os cômodos da casa a oito setores da vida. São eles: carreira, espiritualidade, família, prosperidade, fama, relacionamento, criatividade e amizade. Na maioria das vezes, a parte inferior do baguá é alinhada com a parede da porta de entrada do imóvel. Mas alguns estudiosos preferem fazer esse alinhamento de acordo com os quatro pontos cardeais. O sucesso, em ambos os casos, é o mesmo, garantem os especialistas.

Não é mágica, é medicina
Com 3 mil anos de tradicção, apenas nos últimos 20 anos a técnica começou a se popularizar no Ocidente. Foi trazida da China para os Estados Unidos pelo mestre chinês – e poderia ser de algum outro país? – Lin Yun, que hoje vive nos Estados Unidos. No Brasil, a difusão do Feng Shui é mais recente. Apareceu tímido, há uns três anos, e agora faz sucesso, presente em casas de ricos, poderosos e famosos. A cantora Elba Ramalho e o presidente Fernando Henrique Cardoso já aderiram a essa nova onda.
“Mas é bom deixar claro que não se trata de uma técnica milagreira”, adverte o estudioso Paulo Lin, de São Paulo. “Tanto que prefiro nem atender quem me procura pensando que a vida vai virar uma maravilha num passe de mágica.” Lin parte do princípio que a casa é um ser vivo com outro qualquer e compara o consultor de Feng Shui a um médico. “Nosso papel não é sumir com os problemas, mas, sim, encorajar as pessoas a enfrentar com tranquilidade os obstáculos que vão surgindo na vida.”
A decoradora Florinda Caggiano fez questão de testar o Feng Shui em sua própria casa, antes de começar a oferecer o serviços aos clientes. No andar térreo, a sua sala de visitas correspondia exatamente ao canto dos relacionamentos. Como ela usa o espaço também para trabalhar, o serviço foi caprichado. O ambiente reernegizado, ganhou cortinas vermelhas, diversos pares de enfeite e um prisma de vidro no canto da janela. “Fiz tudo tão direitinho que meus três filhos se casaram em um ano e meio e até a cachorra e a gata engravidaram. Estou pensando em arrastar a minha cama para esse lado da casa”, brinca Florinda, que é separada do marido e, no momento, está sem namorado.

Despreocupação com Dinheiro
Nem todo mundo segue as recomendações dos consultores de olhos fechados. Foi esse o caso da advogada de família da Comissão da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em São Paulo. Em seu escritório, onde os clientes quase sempre chegam angustiados com seus problemas familiares, Lais se recusou a tirar um vaso do corredor porque gostava dele exatamente ali – mas o local era inadequado para o objeto, segundo a sua consultora de Feng Shui. Com vaso fora de lugar e tudo, Lais acabou obedecendo às outras dicas, e o astral no escritório mudou. “Fiz porque achei bonito esse jeito de usar as cores e também porque acredito em energia. Se você aperta um botão de um controle remoto e liga a TV, sem fios e cabos, por que não acreditar que uma fonte de água ou uma pedra negra, colocadas nos lugares certos, pode melhorar o ânimo das pessoas?”, ela pergunta.
Assim, plantas, quadros, fontes, porta-retratos e até uma bandeira vermelha com inscrição em chinês acabaram ocupando lugares de destaque no escritório da advogada. “Percebi que melhorou bastante a relação entre os meus sócios e os funcionários, o trabalho tem fluido com mais facilidade e, apesar das dificuldades financeiras, ando bem menos preocupada que antes com dinheiro”, confia Lais.

Sucesso garantido
A cor do dinheiro e da concentração, o amarelo-ouro, é a marca registrada de um prédio de dois andares da Vila Maria, bairro da zona norte de São Paulo. Na porta da entrada, dois vasos gigantes, um de cada lado, não deixam dúvidas: ali tem dedo de Feng Shui. Empresárias do ramo de revenda de pneus, Maria Baptista Maimone e Andréa Baptista confirmam: “Redecoramos a loja de acordo com o baguá e, coincidência ou não, depois disso ganhamos uma concorrência e juntamos capital para abrir três novas lojas”, festeja Marta. Um dos ambientes é especialmente acolhedor: um jardim de inverno, localizado bem no meio do andar de cima. “Caprichamos na decoração daqui porque é o canto dos amigos, o que, para nós, significa os nossos funcionários, clientes e fornecedores, de quem estamos sempre precisando”, diz Andréa, apontando a miniatura de um gnomo sob a fonte. “A decoração é discreta, porque não queríamos montar um espaço esotérico.”
Nada discreta foi a psicóloga Samia Maluf, ex-modelo que, ao descobrir os poderes do Feng Shui, foi logo instalando um espelho côncavo de frente para um poste, no alto da sua casa de 15 cômodos em estilo inglês, num bairro nobre de São Paulo. “O espelho é para rebater as energias negativas dos fios elétricos”, avisa Samia. A psicóloga aderiu à técnica do Feng Shui para tentar vencer a depressão que surgiu em sua vida logo depois de colocar os pés na casa de seus sonhos – onde hoje ela vive com o marido e os três filhos. “Eu já era apaixonada pela casa havia muitos anos e me mudei em busca de paz. Mas sentia uma energia me puxando para baixo o tempo todo, como se fosse um bloco de concreto oprimindo um balão de festa”, compara Samia.
Ao saber que aquela casa maravilhosa havia sido construída sobre um pântano, a consultora de Feng Shui imediatamente aconselhou Samiaa colocar sob cada um dos sofás e colchões uma placa de cobre, como barreira contra as más energias da água estagnada. Esse e outros ‘toques mágicos’ causaram no início uma certa desconfiança nos empregados. “tive que ir logo avisando que aquilo não tinha nada a ver com macumba, não!”, ri, Samia.
Antes mesmo de concluir todas as adaptações sugeridas pela especialista, Samia diz que já pôde sentir algumas transformações positivas. O centro das suas atenções foi a sala de estar, que funciona também como escritório. Fica bem nos fundos do terreno afunilado, onde ela instalou um spot para anular a sensação de estreitamento. Um prisma na entrada da sala passou a reforçar a luminosidade e, em dois meses de ambientes renovados, Samia já conseguiu reduzir para um terço a dose do antidepressivo que vinha tomando. “Ainda não estou completamente curada, mas minha depressão diminuiu bastante. E o efeito até que foi rápido. Um dia, eu me levantei da cama, e, ao vestir um jeans com camiseta para levar meus filhos à escola, senti que me arrumava como se fosse a uma fesa. conclui que a nova energia havia me ajudado a levantar.”

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