Revista do Crea – Fevereiro, 2001

Engenheiros e arquitetos recorrendo a pêndulos, varetas e forquilhas para medir a energia de um terreno, detectar correntes geo e eletromagnéticas, lençóis freáticos.
Tudo para definir o melhor lugar para erguer uma construção, a melhor localização dos cômodos, etc. Por mais estranha e fantasiosa que pareça essa situação, muitos profissionais, por convicção ou para atender seus clientes, começam a recorrer à radiestesia e ao Feng Shui (técnicas de medição de energia e de harmonização de ambientes) para elaborar e construir seus projetos. A prova de que o preconceito está se rendendo às tendências do mercado é o anúncio recente de uma conceituada empresa de arquitetura – a Archiplanta -, em uma revista semanal de grande circulação, oferecendo Feng Shui em seus projetos.
A pedidos – Segundo Cláudia Fichel, decoradora e sócia da Archiplanta, a ideia de introduzir o Feng Shui nos projetos nasceu do desejo dos próprios clientes. A partir disso, ela começou a estudar o assunto e já começa a utilizar algumas das recomendações do Feng Shui. Uma delas é escolher um terreno o mais retangular possível, ou quadrado, para erguer a construção – outras formas não são consideradas beneéficas. Há um cuidado especial também quando o terreno é em declive, pois segundo a tradição/ciência, as energias (a prosperidade) poderiam escorrer junto com o terreno. Assim, constrói-se um platô para compensar essa características negativa. Outra coisa que Cláudia Fichel tem evitado, pelo menos para os clientes adeptos do Feng Shui, é a construção de casas com vigas aparentes, que atrairiam más energias. “O ideal seria fazer forros planos e não deixar as vigas aparentes, apesar de ser uma coisa bonita e muito utilizada na arquitetura brasileira”, explica Cláudia.
Outro profissional que dá muita importância ao assunto é o arquiteto Edison Ivanov. Especializado na construção de casas de praia e campo, em seus projetos ele utiliza a madeira (dormentes) como coluna e vigas. Mesmo sem utilizar o Feng Shui ou a radiestesia de maneira ‘oficial’, ele acha que recorre de forma intuitiva a essas técnicas. “Já utilizei a radiestesia em alguns projetos, por exigência do próprio cliente. Normalmente não utilizo, mas tenho uma sensibilidade grande para a questão da implantação. Então, avalio o terreno de manhã, à tarde e à noite, e quando chove. Procuro ter as sensações ambientais:ç ver o sol, as árvores, a direção do vento. Condicionantes fundamentais para ter um bom projeto.”
Aliado – A madeira entra como um aliado nesse desafio de construir uma casa mais saudável, entende Ivanov. “A madeira já é neutralizante. Não tem o mesmo comportamento energético dos materiais convencionais. Não adianta fazer uma gaiola de ferro dentro de um contexto urbano e aí buscar a radiestesia , o Feng Shui, para resolver os problemas que foram criados dentro dessa estrutura. A madeira é mais fácil. Não conduz as energias a terra da mesma forma que a energia convencional.”
A decoradora e especialista em Feng Shui Silvana Helena Occhialini, que estuda a técnica há seis anos e meio, garante que ela não é apenas um instrumento para decoração. “É fundamental que os arquitetos tenham esse conhecimento, porque ele gera benefícios.” Segundo ela, pela planta de uma casa é possível saber se a pessoa que ocupa determinado aposento dorme bem, tem boa energia, se a criança gosta de estudar ou não. “Cometem-se erros terríveis de projetos, dispersando energia, pois você pode estar mudando a vida das pessoas.”
Segundo Silvana, pequenos detalhes, como uma janela instalada em frente à porta de entrada de uma residência, podem trazer desarmonia e desperdício de energia. “O chi, que é nossa energia vital, entra no nosso ambiente pela porta de entrada. Caso você tenha uma janela bem em frente à porta, o chi entra e sai logo em seguida. Quando um arquiteto for elaborar um projeto para uma casa, ele já pode pensar numa disposição para essas janelas de uma forma favorável.”
Atualmente, Silvana diz que é requisitada por muitos arquitetos para agregar a técnica do Feng Shui aos projetos. Ela acredita que não vai demorar para o Feng Shui e a radiestesia serem incluídos nos currículos das escolas. “Nos Estados Unidos, falta pouco para isso, da mesma forma como cromoterapia e a acupuntura são reconhecidas nas carreiras da medicina.” Segundo ela, prédios como o Trump Tower e a loja Feliccimo, em Nova York, foram construídos seguindo os princípios do Feng Shui.
Enquanto a técnica chinesa vai ganhando grande divulgação por ser no mínimo de grande apelo decorativo, a radiestesia, também uma técnica muito antiga, remontando à Idade Média, tem muitos seguidores.
Um dos mais antigos é o professor José Barbosa Marcondes, que estuda o assunto desde 1950 e desenvolveu ao longo dos anos uma série de equipamentos que, ele garante, têm a capacidade de neutralizar as energias negativas do subsolo e as emanações de campos eletromagnéticos.
Segundo Marcondes, o assunto é mais sério do que a atenção que vem recebendo. Se fosse feita uma medição radiestésica do terreno onde determinado edifício será construído, garante ele, muitos problemas poderiam ser evitados. Desde um mal-estar das pessoas que vão morar ou trabalhar no local até doenças graves, como câncer.
A prosperidade de um empreendimento também está intimamente ligada à energia do local, garante Marcondes. Grandes grupos empresariais, de maneira discreta, estariam recorrendo a essas técnicas para resolver problemas de toda ordem.
Enquanto a ciência não consegue comprovar a relação existente entre as energias e o bem estar das pessoas, o melhor é ficar com a sensibilidade dos profissionais. Como diz Cláudia Fichel, da Archiplanta, os arquitetos intuitivamente, já fazem Feng Shui. Essas técnicas entram como modismo, muitas vezes, e acabam confirmando aplicações que estes profissionais já utilizam.

plugins premium WordPress